O Universo Numa Casca de Noz

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Fui surpreendida ontem pela notícia da morte de Stephen Hawking, enquanto bebia meu suco de flor-da-paixão matinal. Logo depois recebi uma ligação da minha mãe, e um comentário dela a respeito deste assunto, me arrancou da quietação: “tão novo não é minha filha? Só 76 anos”. Na época dos meus bisavós certamente eles teriam me dito: “viveu muito”. Independentemente de épocas e suas respectivas expectativas de vida, o legado de Hawking para a ciência é inextinguível. Toda obra científica, se especulativa ou probatória, merece reverência por permitir à nossa mente uma viagem a outra dimensão, onde precisamos abandonar a realidade tal qual conhecemos e compreendemos – nossa mente carece estar fora da casca de noz, abraçada ao fruto, como um esquilo faminto contemplando a nogueira.
 
Se eu entendesse de Física como os meus pais juram que eu entendo eu não gastaria minhas ideias de jerico com Buracos Negros. Amante do Tênis que sou, lançaria uma obra Divina, sem a Comédia, a respeito dos Buracos Amarelos. Sim, eles! Eles que atraem tenistas e mais tantos outros tenistas a cada geração, transformando-os em tenistas do “se”. No Buraco Amarelo a Relatividade Geral, o espaço-tempo, a matéria e a anti-matéria, se manifestam no estado de consciência e subconsciência. Tão impiedosa quanto a morte e tão misericordiosa quanto a vida, regendo o Buraco Amarelo como uma maestrina regendo a orquestra, está a mente humana – íntima, nua e crua.  
 
Em inglês, há uma expressão magistral para o que chamamos de amarelar: Choke under Pressure. Ás! O tenista é sufocado pela pressão. É habitual o tenista vergar perante as armadilhas criadas por sua própria mente. Cientistas do esporte já descobriram que, diante da pressão, alguns atletas são despertados do seu modus operandi, e passam a sofrer de ansiedade do desempenho. Durante a ansiedade do desempenho, o atleta sai do estado natural, ou zona de conforto, e imediatamente passa a fixar e reforçar sua mente na mecânica da técnica, a fim de driblar as falhas na execução de algum movimento. De supetão não parece algo ruim. No entanto, esta fixação ou concentração exacerbada, provoca um genuíno caos cerebral, pois destrói a naturalidade do ato, adquirida após anos e mais anos de treinamento. O atleta passa a executar a ação como um iniciante, pois sua mente passa a agir de modo impreciso. O tenista, então, é como um músico, que depois de muito penar aprendendo notas e partituras, passa a tocar sem a intervenção da consciência, genuinamente.
 
No Tênis, esta desordem pode acontecer quando o tenista se fixa no golpe errado em si ou na jogada mal escolhida. Não é raro um tenista deixar transparecer durante vários pontos, games, ou quiçá!, sets, sua frustração a partir de um único erro ou acontecimento específico do jogo. Bom, mas será que é possível se desvencilhar ou sair do Buraco Amarelo? Sim. Não é fácil, e nem impossível. Só para variar, só com bastante treinamento. O tenista necessita tapear a mente. Há aqueles que conseguirão sozinhos, os gênios vencedores; outros, com preparação psicológica, os campeões. Quando ouço o relato de algum tenista reclamando que seu ex-treinador o fazia bater seguidamente a jogada ou o golpe que ele mais comete erro, tenho certeza de que este tenista é um exímio inquilino do Buraco Amarelo. E pior, ele não almeja sair de lá, pois se nega a corrigir suas fraquezas, a reviver situações desfavoráveis para poder encontrar a saída ou, ao menos, passar por estas situações com maior probabilidade de êxito. Sinceramente, para tenista imutável eu não indico um treinador, eu indico um paredão de penas e espuma para ele bater a bola como quiser e para que ela não regresse mais.  
 
Será que se o Federer de antes fosse o Federer de agora ele teria obtido mais êxito ao longo da carreira contra o Nadal? – indaga um amigo, sugerindo-me pauta. Como opinião é pessoal e não requer diploma, não fujo da questão, tampouco da teoria. Se fosse possível ao Federer reunir no mesmo espaço-tempo, a exuberância física de outrora, a qualidade técnica e a intuição de sempre com a mente de agora, dificilmente, este H2H seria tão favorável ao Nadal, julgo, seria até vantajoso para o lado suíço. Há quase que um consenso entre especialistas de que o Federer de antes não adotava um plano tático contra o Nadal, que se recusava a jogar explorando o lado frágil do adversário. Não concordo em tudo, mas em muito. Federer até adotava um plano tático, mas bastava uma adversidade para ele sair do estado de nirvana – o da intuição entrelaçada à tática e à técnica. Ele não se desconcentrava com as falhas, ele passava a se concentrar em demasia, agindo como um principiante. Como uma pessoa de mente (não demente) na lua, entretanto com os dois pés no chão, ao menos quando estou andando, prefiro outra teoria para deixar tudo justo. Se digladiasse com esse Federer da teoria um Nadal com a exuberância física e mental de seu cume, mas com a maturidade técnica do hoje, sinto muito meu amigo, desconfio que aquele top spin psicodélico pelas esquinas do saibro manteria este H2H inabalável. Que graça teria um jogador considerado o melhor e maior tenista dos tempos já vistos, até pelo God Laver, não ter ao menos um H2H incômodo no calcanhar? Se tem PhD do rádio de pilha, logicamente o que nunca saiu de seu recamier para jogar Tênis, insistindo na ideia fixa de geração fraca, conjecturem vocês o que mais de blasfêmias seríamos obrigados a ouvir se Federer tivesse o H2H favorável contra Nadal. Como diria Hamlet: “eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito”.

 

 

 

 

 


Colunista: LuA Linhares
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